O Eremita (mini-conto)

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Ele morava no alto da montanha e tinha toda aquela pinta do sábio eremita dos desenhos animandos. Quando a notícia se espalhou (ou ele espalhou a notícia) de que possuia “a Verdade”, o próprio Criador lhe havia confiado a mesma, uma legião de pessoas começou a subir a montanha em busca de respostas.

Em pucos anos sua população de seguidores cresceu e, no lugar da pequena cabana da montanha, foi construído um palácio e um templo. A arca, um baú antigo, tipo esses de filme de pirata, onde ele mantinha a “Verdade” guardada, ficava num altar no centro do salão principal, onde ele recebia os que vinham ao seu encontro e passava adiante seus ensinamentos.

Não muito tempo depois ele já não conseguia atender a todos e teve que delegar para alguns auxiliares parte de seu trabalho. E logo depois um templo já não era suficiente e outros foram construídos nas montanhas vizinhas.

Mas quase ninguém nunca pedia para ele abrir a arca e mostrar a “Verdade”. Para a imensa maioria dos seus seguidores sua palavra já era mais suficiente. Aos muito poucos que tinham essa coragem, ele dizia que eles ainda não estavam prontos. O próprio desejo de ver a “Verdade” mostrava que não estavam prontos. Mas ele não deixava ninguém olhar dentro da arca porque a “Verdade” não estava lá. Ele não era, como muitos imaginavam, o dono da “Verdade”.

Enquanto isso, do lado de fora do templo da montanha, sentado numa pedra e atrás de uma árvore, o verdadeiro dono da “Verdade” e seu filho barbudo olhavam perplexos para fila de gente na porta…